terça-feira, 28 de setembro de 2010

Seleção Nada Natural

Mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara); Animal raro, encontrado só no Superagui, na mata Atlântica. Era uma brincadeira de criança, foi assim que uma equipe de biólogos do Paraná descobriu essa espécie de mico-leão na Mata Atlântica paranaense, em 1990.


O risco de extinção das espécies brasileiras é evidente e aumenta a cada dia. Mas o problema pode ter começado muito antes da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.
Por Marcelo Delduque





No fim de 2000, uma ararinha-azul macho que vivia livre na natureza sumiu de Curaçá, no sertão baiano.Foi o ato derradeiro de uma luta que ecoou muito além dos limites do semiárido nordestino. A menor entre as araras brasileiras, de nome científico Cyanopsitta spixii, era uma sertaneja forte, de asas longas, com voo sofisticado e econômico de energia, adaptada ao ralo alimento encontrado no semiárido. No entanto, essa espécie evoluída em termos adaptativos era bela demais, e não forte o bastante, para resistir à predação humana.

Extinções sempre existiram, pelo menos há 3 bilhões de anos quando teve inicio a vida no planeta. A grande maioria das espécies que surgiam não está mais aqui. E a biodiversidade que conhecemos é resultado de complexa teia de seleção de espécies mais bem adaptadas a cada condição natural. O ser humano provocou mudanças sem precedentes na trajetória da vida. Em alguns milhares de anos, ele conquistou todos os continentes, dotado de um poder destrutivo comparável aos fenômenos responsáveis pelas extinções em massa no passado remoto - a exemplo do súbito desaparecimento dos dinossauros.

Quanto já extinguimos? "Os biólogos acham difícil apresentar sequer uma estimativa aproximada de hemorragia, porque, para começar, sabemos pouquíssimo sobre diversidade. Extinção é o processo biológico mais obscuro e localizado", explica o naturalista americano Edward Wilson. E arrisca: "A atividade humana aumentou a extinção em mil e 10 mil vezes (CONFUSO) além desse nível [o nível natural] nas florestas tropicais apenas pela redução de sua área. Claramente estamos vivendo um dos grandes espasmos de extinção da história geológica".

A ararinha-azul foi dizimada pela avidez dos traficantes de pássaros, estimulados por colecionadores que chegavam a pagar até 40.000 dólares por um único espécime. Como no processo econômico de oferta e demanda, o valor inflacionou à medida que a ave rareava. Em 1995, pesquisadores chegaram a soltar no sertão uma fêmea nascida em cativeiro. Mas o tão esperado acasalamento nunca aconteceu.

Após o sumiço do macho de Curaçá, a guerra passou a ser travada em cativeiro. O objetivo é parear os cerca de 70 exemplares existentes mundo afora, "contemplando o máximo de diversidade genética possível", informa a bióloga Yara Barros, coordenadora de cativeiro do Comitê Permanente para Recuperação da Ararinha-Azul, vinculado ao Instituto Chico Mendes. "O desafio para os próximos anos é aumentar a população em cativeiro para, no futuro, tentar a soltura na natureza." Uma questão crucial é se as matrizes existentes ainda poderão dar conta de manter uma população viável. "Infelizmente, isso é o que temos", resigna-se Yara. Além da herança genética, há os aspectos de conhecimento e aprendizagem que passam de pai para filho, como busca por alimento e técnicas de proteção contra predadores. Se a espécie retornar de fato ao ambiente, esses hábitos deverão ser reaprendidos.

O impacto da ação humana no Brasil pode ser bem mais antigo que o desembarque da esquadra de Cabral há 500 anos. Na realidade, o ser humano chegou à América do Sul há pelo menos 12 mil anos, e os primeiros grupos que povoaram os campos no continente conviveram com uma fauna estranha aos dias atuais. Os caçadores nômades foram atraídos pela fartura de grandes mamíferos, como preguiças, tatus gigantes, e outros animais, como elefantoide, toxodonte e esmilodonte - alguns maiores que bois. A chegada do ser humano coincidiu com a súbita extinção dessa megafauna, o que sugere uma associação entre os dois eventos. Os homens teriam se fartado tanto com a abundância quanto com a facilidade de caça, sem dar conta do extermínio. É apenas uma hipótese, mas pode ter sido prenúncio do que estava por vir.

Até os portugueses aportarem, não há indícios de nenhum evento de impacto tão profundo como o extermínio da megafauna - várias espécies teriam sido extintas logo no começo da colonização. Segundo relata o historiador Warren Dean, o cronista Fernão Cardim havia descrito uma ave e penas de "quase todas as cores em grande perfeição, a saber, vermelho, amarelo, preto, azul, pardo, cor de rosmaninho, e de todas estas cores tem o corpo salpicado e espargido", que não corresponderia a nenhuma espécie encontrada nos dias atuais.

O resultado é que o Brasil é hoje o segundo país em número de espécies ameaçadas. Está atrás apenas da Indonésia, de acordo com a Fundação Biodiversitas - entidade encarregada da lista vermelha de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção que segue metodologia da união Mundial para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). De acordo com o último levantamento, existem 627 bichos ameaçados no Brasil, contra os 207 relacionados em 1989. Há sete espécies extintas definitivamente e duas extintas na natureza. "Em 1989, participaram do levantamento 22 especialistas; já em 2003 [data da última pesquisa realizada] foram 227 pessoas", explica Rafael Thiago, da Biodiversitas. "As descobertas de novas espécies e as pesquisas aumentaram; porém, ainda conhecemos bem pouco sobre nossa fauna. Mas as pressões também se tornaram mais agudas", diz. Embora imperfeitas, as lisas ajudam a subsidiar políticas públicas de conservação, a fomentar a pequisa e o manejo, e até estimulam a criação de unidades de conservação.

Não fosse uma espécie vistosa, o desaparecimento da ararinha-azul sequer teria sido registrado. As araras fascinam. Foram os bichos mais perseguidos durante a formação do Brasil, e serviam de símbolo para identificar a colônia nos mapas, como diz a legenda: "Brasilia sive terra papagallorum". espécies exuberantes tanto atraem a cobiça de caçadores, como são capazes de sensibilizar as pessoas sobre a importância de conservá-las na natureza. É a bandeira levantada em favor de sua proteção, quando bem articulada, ajuda a proteger o bioma em que ela está inserida. É uma estratégia conservacionista. É assim com a onça-pintada, com as baleias franca e jubarte, com outras araras; com o peixe-boi, com os primatas de forma geral e com as tartarugas-marinhas: são bichos que representam a natureza brasileira e catapultam os esforços para conservá-la.

É o caso do mico-leão-dourado, diminuto primata endêmico das florestas de baixada da Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro. A ação de traficantes de animais, associada ao desmatamento, reduziu a população a cerca de 250 indivíduos, em meados da década de 1960. Foi quando o alarme soou, graças à voz quase solitária do primatólogo Adelmar Faria Coimbra Filho, integrante da pioneira Fundação Brasileira de Conservação da Natureza (FBCN), cujos estudos culminaram na criação da primeira reserva biológica no país, a de Poços das Antas, em 1974. Mas a área da reserva não era suficiente para abrigar uma população viável de micos, que precisariam de fragmentos da floresta dos arredores em propriedades particulares. sem áreas conectadas, as populações se isolariam.

Avançar as áreas florestadas para dentro das fazendas implicava romper paradigmas, como lembra a atual coordenadora do projeto Denise Rambaldi, laureada no ano passado com o Prêmio Liderança em Conservação na América Latina, da National Geographic Society. "A primeira pergunta que o fazendeiro faz é sobre o custo de oportunidade: 'Quanto eu vou perder de pasto?' Mas nós procuramos pegar pelo lado emocional, embora hoje em dia já tentamos remunerá-los, pondo as terras nos mecanismos de compensação com crédito de carbono", explica ela. Foram longos processos de negociação, e os fazendeiros envolveram-se a tal ponto que a Associação Mico-Leão-Dourado, criada em 1992 para gerir o projeto, tem hoje um como presidente. E Poço das Antas ganhou em seu entorno 17 áreas protegidas na modalidade Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), criadas por iniciativa dos próprios fazendeiros.

Sob os auspícios do pequeno mico, cuja população na natureza, no fim de 2007, somava 1,6 mil indivíduos, a Mata Atlântica como um todo se beneficiou. "O mico-leão-dourado mudou de status na lista global de espécies ameaçadas, passou de 'criticamente ameaçado' para 'ameaçado'", diz Denise. Para se ver livre do risco de extinção, deverá haver, segundo modelos matemáticos, pelo menos 2 mil indivíduos na natureza até 2025, em uma área contínua de 25 mil hectares.

Transformações culturais estão na espinha dorsal de qualquer plano para salvar espécies, mas, quando o imperativo econômico fala alto, se erguem barreiras espinhosas. O drama da onça-pintada é emblemático. segundo o biólogo Tadeu Gomes de Oliveira, no fim dos anos de 1960, matavam-se 15 mil onças por ano - somente pelos dados oficiais de exportação de peles. Apesar da proibição , em 1967, de se comercializar essas peles, matar onça ainda faz parte do cotidiano em muitos grotões no Brasil.

O Pantanal Mato-Grossense é um dos últimos refúgios desse grande mamífero. Mas por onde o gado de corte se espalha o embate é feroz. Algumas iniciativas tentam conciliar a atividade de pecuária com a sobrevivência do bicho. É o caso do projeto comandado pelo biólogo Peter Crawshaw nos arredores de Corumbá. "Iniciamos o pastoreio noturno com trator. Quando o tratorista percebe que o gado está inquieto, ele solta rojões na direção do mato", explica. "Isso tem diminuído muito a predação. O próprio gado se dá conta de que o trator é uma proteção, e fica próximo a ele." Os rojões afugentam a onça. Um alerta de que ali é o território do bicho homem. Pantaneiros forjam assim um acordo de boa convivência com as onças. Bom para ambos. pois bichos e gente, como estamos aprendendo a duras penas, são partes do mesmo todo.

Como todas as espécies de animais, as aves que vivem no bioma mais devastado são as mais ameaçadas de desaparecer. E a Mata Atlântica, em que sobrou apenas 7% de sua composição original, é o habitat de bichos em maior perigo de extinção. Principalmente os endêmicos, como a jacutinga, que sofre também por ser alimentar do coco do palmito juçara, uma planta igualmente ameaçada em razão da ação de palmiteiros ilegais. A destruição do habitat também é a ameaça ao pato-mergulhão - antes visto facilmente em rios da serra da Canastra e regiões montanhosas de Minas gerais. O mesmo ocorre com animais endêmicos de regiões da Amazônia, como o cada vez mais raro mutum-de-penacho. A ave vive nas regiões do leste do Pará e Maranhão, justamente uma das partes mais ameaçadas do bioma, situada no arco do desmatamento.

O desaparecimento de espécies que constituem a base da cadeia alimentar desequilibra todo o ecossistema. O sumiço de um anfíbio, por exemplo, pode ter um efeito dominó devastador na alimentação de várias espécies de vertebrados. O mesmo ocorre com os insetos e a flora, como briófitas, pteridófitas e bromélias. As mudanças climáticas e a poluição atingem primeiro esses seres mais sensíveis, que são indicadores das mudanças que ocorrem no planeta. Por isso tem sido verificado o desaparecimento de sapos e anfíbios, mas que agora está sendo agravado pela ação do fungo quitrídia. Já os peixes, no país que possui a maior quantidade de água doce do mundo, equilibram os rios, que por sua vez hidratam as matas. Mas a cadeia de pesca desregulada coloca em risco a fauna aquática. E o equilíbrio advindo dela, com o controle da proliferação de pragas e insetos na beira dos rios.

Encontrar hoje um cachorro-do-mato-vinagre na natureza é como ganhar na loteria - ao menos para um fotógrafo de natureza. Mas trata-se de um prêmio a ser comemorado com parcimônia, tal é a vulnerabilidade da existência dessa espécie. Ele nunca foi caçado por interesse econômico, em razão de sua bela pelagem, como ocorreu até os anos 1960 com a jaguatirica e outros felinos. no entanto, é a destruição do habitat a maior ameaça a sua existência. O mesmo ocorre com a maioria dos mamíferos que habitam o território brasileiro.

Constar nas listas de espécies ameaçadas é o primeiro passo que dá início a uma série de ações que visam impedir a extinção do animal. Para isso, o Ibama e a Fundação Biodiversitas produzem um documento técnico sobre a situação de perigo de desaparecimento de cada animal. Foi dessa forma que o peixe-boi começou a receber proteção especial de pesquisas e recursos no litoral do Nordeste e na Amazônia para sobreviver.


Autor: Marcelo Delduque.

sábado, 5 de junho de 2010

AVICULTURA DE CORTE: UM SISTEMA DE TRÊS FASES PARA UMA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL


NEVES, Lúcio de Araujo1; TERRA, Viviane S.S.1;GARCIA, Leonardo Costa1; FARIA, Lessandro Coll1; Luz, Maria Laura G.S.2; Luz,Carlos Alberto S.2; Pereira-Ramirez, O.2;Gomes, Mário C.2

1 Engenheiro Agrícola; 2 Professores FEA/FAEM-UFPel

lucioaneves@yahoo.com.br

vssterra@yahoo.com.br


1. INTRODUÇÃO

Os países em desenvolvimento vêm tendo a preocupação em solucionar o problema do déficit protéico na alimentação da sua população. Neste cenário surge a avicultura, dentre as atividades do setor pecuário, como aquela que apresenta características ideais para a solução rápida e eficiente de tal déficit.

Muitos estados do Brasil possuem condições excelentes para a implantação dessa atividade, destacando-se a região sul do RS. Esta atividade pode ser uma alternativa para os pequenos produtores rurais diversificarem sua produção e obterem um incremento na sua renda.

O objetivo deste trabalho é implantar um sistema de criação de frango em uma pequena propriedade, localizada em Rio Grande/RS, onde já existe produção leiteira, visando aumentar a sua rentabilidade e diversificar a sua produção através de um sistema de integração.

Para tanto, o sistema escolhido foi o STF- Sistema de Três Fases, porque proporciona uma produção de 10 lotes a mais/ano do que o sistema convencional. Nele o animal fica alojado durante o período de 14 dias, em cada fase do processo, totalmente confinado em ambiente não climatizado. Após o período de 42 dias, esse está pronto para o abate. Para iniciar a criação são necessários dois galpões com capacidade para 15 mil aves cada, com uma produtividade de 10 mil aves a cada 21 dias, totalizando 17 lotes de aves/ano.

O sistema “all in all out”, ou seja, todos dentro todos fora, em que todos os animais de mesma idade começam e terminam ao mesmo tempo, não utiliza a área construída econômica das primeiras semanas. Já o sistema STF (Sistema de Três Fases), utiliza o máximo possível à área construída; os equipamentos; os operários e o capital, pois permite fornecer o espaço necessário a cada animal de acordo com a idade dos mesmos.

Uma importante condição prévia é que cada compartimento com pintos de diferentes idades seja dividido por paredes de alvenaria e portas de madeira, e que cada compartimento tenha um sistema separado de ventilação, iluminação, comedouros e bebedouros.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Na elaboração do estudo foi efetuada uma revisão bibliográfica para reunir informações sobre temas relacionados à avicultura de corte. Ainda como metodologia da pesquisa foram realizadas visitas a campo em propriedades rurais, cooperativa, exposição agropecuária e escola agrícola.

As visitas nas propriedades rurais foram realizadas com o objetivo de observar e obter informações sobre o método de criação utilizado. Já na cooperativa buscaram-se dados sobre o sistema de integração e custo de produção. O sistema de integração fornecerá ao produtor, os animais, ração, assistência técnica e garantia de compra de toda a produção. Em exposições agropecuárias investigou-se junto às empresas produtoras de equipamentos ligados à avicultura, informações técnicas e valores dos mesmos. Ainda foi realizada uma visita em uma escola agrícola, que adota um sistema similar pretendido e proposto no então trabalho, qual seja: um sistema de três fases.

Foram realizados cálculos para se obterem quantidades exatas de equipamentos a serem utilizados no trabalho, como bebedouros, comedouros, ventiladores, lâmpadas, campânulas e depósito de ração. Com base nesses dados, foi feito um orçamento junto às empresas. Também foram realizados, balanço de massa, fluxograma das operações, levantamento do número de funcionários, projeto com desenhos, tais como, plantas baixas, situação e localização, fachadas e cortes. Foi realizada uma análise econômica utilizando o indicador Valor Presente Líquido – VPL.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando-se os estudos realizados, a estrutura adequada para abrigar o aviário é um galpão dividido em três compartimentos que ofereça às aves o espaço necessário de acordo com o crescimento e a idade dos mesmos.

Cada compartimento possui seu próprio sistema de ventilação, iluminação, água e alimentação, utilizando o máximo possível da área construída. Entre os compartimentos existem aberturas (1,20m/2,40m) que somente são usadas por ocasião da transferência dos animais de um compartimento para outro.

Este tipo de criação se divide em três fases. Na primeira os animais permanecem durante as duas primeiras semanas (primeiro dia até segunda semana), necessitando de 180 m2. Já na segunda fase, permanecem da terceira até a quarta semana, onde são necessários 252 m2. Na terceira fase, permanecem da quinta em diante, onde são necessários 372 m2. Imediatamente após a retirada dos animais de um compartimento, este é limpo e desinfetado e não deve ser usado por uma semana. Esse período ajuda a controlar as doenças e da flexibilidade ao manejo.

Um novo lote entra a cada três semanas (21 dias), assim como a cada 21 dias um lote vai para o abate.

Nesse sistema é necessário menos equipamento por kg de frango, sendo a utilização do capital (galpão e equipamento), 17 vezes em vez de 7 vezes do sistema convencional. Também é possível criar 41,17% mais frangos por ano na mesma área construída do que no método convencional (um grupo de cada vez), sendo que com 3 grupos de idades diferentes o trabalho e o consumo de alimentos é mais uniforme.

O trabalho também visa à reutilização dos dejetos como adubação para lavouras, visto que a propriedade produz anualmente grande quantidade de forragens.


4. CONCLUSÃO

Através da análise econômica, utilizando-se um indicador para avaliação econômica chamado VPL (Valor Presente Líquido), verificou-se que o mesmo foi positivo, ou seja, que o projeto é viável economicamente.

O retorno do investimento, por sua vez, se dará em dois anos e sete meses. Diante do todo exposto, ao reunir os dados da visita de campo, da revisão bibliográfica, e da análise econômica, concluiu-se que o projeto pode ser aplicado a qualquer pequena propriedade rural com as características anteriormente citadas.

5. REFERÊNCIAS

ANUÁRIO AVE WORLD, Anuário 2004, Campinas-SP. 84p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES E EXPORTADORES DE FRANGOS. Disponível em: . Acesso em 27 de agosto de 2005.

ASSOCIAÇÃO CEARENSE DE AVICULTURA. Disponível em: . Acesso em 2 de setembro de 2005

ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE AVICULTURA. Disponível em: . Acesso em 28 de agosto de 2005

ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE AVICULTURA. Disponível em: . Acesso em 28 de agosto de 2005

AVES E OVOS. Disponível em: . Acesso em: 28 de agosto de 2005

AVICUTURA INDUSTRIAL. Disponível em: http://www.aviculturaindustrial.com.br. Acesso em: 13 de agosto de 2005.

EMBRAPA SUÍNOS E AVES. Disponível em: . Acesso em 2 de setembro de 2005.

ENGLERT,Sérgio Inácio . Avicultura: tudo sobre raças, manejo e nutrição. 7. ed. atual. Guaíba: Agropecuária, 1998. 238p.

FERREIRA, Mauro Gregory. Corte e postura. Centaurus, 1982. 118p

GSI BRASIL. Disponível em: . Aceso em 4 de setembro de 2005

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: . Acesso em 13 de agosto de 2005.

LLOBET,Jose Antonio Castello. Manual prático de avicultura. Barcelona, 1975. 208p

MALAVAZZI, Gilberto. Avicultura: manual prático. São Paulo/SP, 1977.156p.

METALÚRGICA JOAPE. Disponível em: . Acesso em 4 de setembro de 2005

SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA. Disponível em: . Acesso em 28 de agosto de 2005


Avicultura de Corte: Um sistema de três fases para uma pequena propriedade rural. Sábado, 05/06/2010.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dia Mundial da Terra


O Dia da Terra foi criado em 1970 quando o Senador norte-americano Gaylord Nelson convocou o primeiro protesto nacional contra a poluição. É festejado em 22 de abril e a partir de 1990, outros países passaram a celebrar a data.

Sabe-se que a Terra tem em torno de 4,5 bilhões de anos e existem várias teorias para o “nascimento” do planeta. A Terra é o terceiro planeta do Sistema Solar, tendo a Lua como seu único satélite natural. A Terra tem 510,3 milhões de km2 de área total, sendo que aproximadamente 97% é composto por água (1,59 bilhões de km3). A quantidade de água salgada é 30 vezes a de água doce, e 50% da água doce do planeta está situada no subsolo.

A atmosfera terrestre vai até cerca de 1.000 km de altura, sendo composta basicamente de nitrogênio, oxigênio, argônio e outros gases.

Há 400 milhões de anos a Pangéia reunia todas as terras num único continente. Com o movimento lento das placas tectônicas (blocos em que a crosta terrestre está dividida), 225 milhões de anos atrás a Pangéia partiu-se no sentido leste-oeste, formando a Laurásia ao norte e Godwana ao sul e somente há 60 milhões de anos a Terra assumiu a conformação e posição atual dos continentes.

O relevo da Terra é influenciado pela ação de vários agentes (vulcanismo), abalos sísmicos, ventos, chuvas, marés, ação do homem) que são responsáveis pela sua formação, desgaste e modelagem. O ponto mais alto da Terra é o Everest no Nepal/ China com aproximadamente 8.848 metros acima do nível do mar. A Terra já passou por pelo menos 3 grandes períodos glaciais e outros pequenos.

A reconstituição da vida na Terra foi conseguida através de fósseis, os mais antigos que conhecemos datam de 3,5 bilhões de anos e constituem em diversos tipos de pequenas células, relativamente simples. As primeiras etapas da evolução da vida ocorreram em uma atmosfera anaeróbia (sem oxigênio).

As teorias da origem da vida na Terra, são muitas, mas algumas evidências não podem ser esquecidas. As moléculas primitivas, encontradas na atmosfera, compõe aproximadamente 98% da matéria encontrada nos organismos de hoje. O gás oxigênio só foi formado depois que os organismos fotossintetizantes começaram suas atividades. As moléculas primitivas se agregam para formar moléculas mais complexas.

A evidência disso é que as mitocôndrias celulares possuam DNA próprio. Cada estrutura era capaz de se satisfazer suas necessidades energéticas, utilizando compostos disponíveis. Com este aumento de complexidade, elas adquiriram capacidade de crescer, de se reproduzir e de passar suas características para as gerações subseqüentes.

A população humana atual da Terra é de aproximadamente 6 bilhões de pessoas e a expectativa de vida é em média de 65 anos.

Para mantermos o equlíbrio do planeta é preciso consciência dessa importância, a começar pelas crianças. Não se pode acabar com os recursos naturais, essenciais para a vida humana, pois não haverá como repô-los. O pensamento deve ser global, mas a ação local.

terça-feira, 13 de abril de 2010

TJMG ASSEGURA CRIAÇÃO DE PÁSSAROS !

18/03/2010 - TJ assegura criação de pássaros


Até que ponto a criação de pássaros em cativeiro configura crime ambiental?


A preservação do meio ambiente e a aplicação de penalidades, até pouco tempo irrelevantes, têm sentido mais educativo e devem atender às condições e motivação do infrator. Comprovado que os animais recebem cuidados adequados e que foram recolhidos para tratamento de doenças e ferimentos, não se justifica qualquer penalidade.”


Esse foi o entendimento da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ao negar provimento ao recurso do Ministério Público contra professor de História Natural da UFMG que mantinha 128 pássaros em cativeiro.


O relator do processo, Desembargador Ernane Fidélis, considerou que, muito embora não se deva desprezar a preocupação dos órgãos próprios de defesa do meio ambiente, as formas repressivas devem ser utilizadas sem excesso de penalidade.


No caso julgado, o desembargador confessa não entender e considera excessivo o cálculo realizado por um técnico ambientalista, de multa no valor de R$120 mil a ser aplicada como dano ambiental.


O desembargador assegura que, conforme as provas colhidas, a finalidade do cativeiro é mais de proteção aos animais tanto que o próprio órgão responsável nomeou o acusado depositário dos mesmos.


O Desembargador Edílson Fernandes manifestou-se favorável ao voto do relator, justificando que, no caso em análise, as provas confirmaram que o criador dos pássaros não teve a intenção de degradar o meio ambiente. Ao amparar aqueles animais, capturados por terceiros, com auxílio de duas veterinárias prestava uma contribuição ao ambiente ecologicamente preservado, que é o único propósito da norma constitucional.


O Desembargador Maurício Barros também acompanhou o voto do relator.


Processo nº 1.0024.04.531015-8/002(1)


Assessoria de Comunicação Institucional - Ascom TJMG – Unidade Goiás


Fonte: CURIÓ CLÁSSICO & TORNEIOS ; 19/03/2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Epidemiologia dos acidentes ofídicos notificados pelo Centro de Assistência e Informação Toxicológica de Campina Grande (Ceatox-CG), Paraíba

Bothrops
Resumo
Os acidentes causados por animais peçonhentos
ainda constituem problema de Saúde Pública no Brasil. Embora a produção
e a distribuição dos soros no país encontrem-se estabilizadas, há problemas relacionados à notificação de acidentes deste tipo em várias regiões. Considerando
esta realidade, foi realizado um estudo transversal entre janeiro e dezembro de 2005, utilizando documentação indireta sobre os acidentes ofídicos ocorridos em Campina Grande e 80 municípios adjacentes
à região, com o objetivo de conhecer o perfil epidemiológico e clínico deste tipo de caso. Todos os pacientes atendidos tiveram
diagnóstico médico de acidente por serpentes realizado pelo Centro de Atendimento
Toxicológico de Campina Grande (Ceatox-CG). Os dados foram coletados através da ficha de notificação do Sinan (Sistema Nacional de Notificação de Agravo do Ministério da Saúde). Para análise dos dados, foi utilizada estatística descritiva e os dados foram tabulados no programa Microsoft
Excel 2003. Dos 1.443 atendimentos no Centro, 737 foram causados por animais peçonhentos e, destes, 277 foram provocados
por serpentes peçonhentas e não peçonhentas. Os acidentes predominaram no sexo masculino, na faixa etária de 10 a 29 anos, principalmente em agricultores na zona rural, entre maio e novembro de 2005. O gênero Bothrops foi responsável pelo maior número de casos (71,5%), e as extremidades superior e inferior do corpo foram os locais de maior predominância de ataques. Na extremidade inferior, foi atingido principalmente o pé. Em relação à gravidade, foram mais frequentes os acidentes
classificados como leves causados pelo gênero Bothrops e apenas um paciente evoluiu para óbito. A média do tempo de atendimento, em horas, foi superior a 12 horas nos acidentes considerados graves, causados pelos gêneros Bothrops e Crotalus. Nossos resultados concordam com o perfil epidemiológico nacional dos acidentes ofídicos, atingindo com maior frequência o sexo masculino – trabalhadores rurais, na faixa etária produtiva de 10 a 49 anos – atingindo,
sobretudo, os membros inferiores, e a maioria desses acidentes foi atribuída ao gênero Bothrops.

Palavras-chave: Picada de Cobra. Epidemiologia.
Paraíba. Brasil. Cobras (BVS: Scielo).
Introdução
O estudo do ofidismo no Brasil teve início com os trabalhos desenvolvidos nos primórdios do século XX por Vital Brazil no Instituto Serumterápico, hoje Instituto Butantan. Ao iniciar a produção de soros, este pesquisador introduziu os “Boletins para Observação dos Acidentes Ofídicos”, porém até a década de 80 os estudos de notificação eram localizados, sendo realizado
principalmente na região Sudeste. Por outro lado, havia deficiência na produção do soro. Em maio de 1986, várias medidas foram instituídas pelo Ministério da Saúde, dentre as quais podemos citar a criação do Programa Nacional de Ofidismo, na antiga Secretária de Ações Básicas da Saúde (SNABS/
MS). Os acidentes ofídicos passaram então a ser de notificação obrigatória no país, permitindo uma relação de troca de informações epidemiológicas por soro entre as Secretarias Estaduais e o Ministério da Saúde. Com a implantação deste sistema aprimoraram-se os dados sobre ofidismo, mostrando características epidemiológicas e clínicas que permitiram o planejamento de ações de controle.
O Brasil apresenta diversas famílias de serpentes. Dentre estas, somente duas abrangem as serpentes consideradas peçonhentas:
a família Viperidae, destacando-se a subfamília Crotalinae, à qual pertencem os gêneros Crotalus (Cascavel), Bothrops (Jararaca) e Lachesis (Surucucu); e a família Elapidae, que engloba o gênero Micrurus, cujas espécies são conhecidas popularmente
por corais verdadeiras1.
É de grande relevância que se conheça o gênero a que pertence a serpente para que se possa tomar medidas terapêuticas fundamentais
em caso de acidente. Contudo, o diagnóstico é feito, em geral, através dos sinais e sintomas apresentados pelo paciente,
em consequência das atividades tóxicas causadas pela inoculação da peçonha2.
Dentre os animais peçonhentos, as peçonhas
das serpentes são, provavelmente, as mais complexas, pois contêm vinte ou mais componentes diferentes, sendo mais
de 90% de seu peso seco constituído por enzimas, toxinas não enzimáticas, proteínas e proteínas não tóxicas. As frações não protéicas
são representadas por carboidratos, lipídios, aminas biogênicas, nucleotídeos e aminoácidos livres3.
O conhecimento da composição dos venenos e seus principais efeitos sobre o organismo humano permitem ao médico reconhecer o gênero da serpente responsável
pelo acidente e selecionar a soroterapia
adequada, mesmo na ausência da serpente2.
A letalidade dos acidentados varia em diferentes regiões do mundo. Na Europa, Estados Unidos e Canadá, os acidentes ofídicos são relativamente raros. Cerca de 90% dos 8.000 envenenamentos ocorridos por ano são hospitalizados, resultando entre 15 a 30 casos fatais. Na África, a frequência dos acidentes ofídicos é precariamente documentada. Dos 500.000 casos de acidentes
ofídicos, 40% são hospitalizados, resultando em 20.000 óbitos por ano. Na Ásia, principalmente no Paquistão, na Índia e na Birmânia, os acidentes ofídicos provocam de 25.000 a 35.000 óbitos por ano, sendo causados por uma das serpentes mais importantes do mundo: a Vipera russelli. No Japão a incidência geral é de aproximadamente
1/100.000 habitantes e a letalidade é inferior a 1%4.
Entre os países sul-americanos, o Brasil é o que apresenta maior número de acidentes/
ano5.
O território brasileiro conta com 250 espécies de serpentes, sendo 70 delas consideradas peçonhentas6. Somente no ano de 2005 foram notificados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 97.244 envenenamentos por animais peçonhentos, dentre os quais as serpentes contribuíram com 28.702 casos (29,52%)7.
No Brasil os dados sobre acidentes por animais peçonhentos são coletados através de sistemas de notificação como: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/MS), Sistema de Nacional de Informações
Tóxico-Farmacológicas (Sinitox/Fiocruz/MS), Sistema de Informações Hospitalares
do Sistema Único de Saúde/MS e o
SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade/
MS). Apesar de todos estes sistemas, os dados epidemiológicos disponíveis não retratam a real magnitude do problema, provavelmente devido à subnotificação dos casos, tendo em vista, entre outros fatores, as dificuldades de acesso aos serviços de saúde de muitos municípios brasileiros.
O presente estudo pretende contribuir para a caracterização do perfil epidemiológico
e clínico dos acidentes ofídicos no município de Campina Grande e cidades circunvizinhas.

Metodologia
Local do estudo
O município de Campina Grande está localizado no Agreste Paraibano, distante 120 km de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística - IBGE, este possui uma área territorial de 671 Km2 e uma população constituída de 379.871 habitantes, sendo que 46,87% são homens e 53,2% são mulheres8. Por dispor de uma posição geográfica privilegiada, Campina Grande é um polo de convergência, com aproximadamente 232 municípios, tanto da Paraíba, quanto de estados vizinhos, cujos habitantes se deslocam para o município em busca dos serviços oferecidos, entre os quais os de saúde.
Esta pesquisa foi realizada no Centro de Assistência e Informação Toxicológica (Ceatox),
serviço oferecido pelo Departamento de Farmácia da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB em parceria com o Hospital Regional de Urgência e Emergência de Campina
Grande (HRUECG). Este serviço, que é considerado de referência para o Município de Campina Grande e o Estado da Paraíba, é dirigido à população em geral, funcionando em regime de plantão permanente.

Desenho e população de estudo
Trata-se de um estudo transversal, utilizando documentação indireta, sobre
os acidentes ofídicos ocorridos em Campina
Grande e cidades circunvizinhas, entre janeiro e dezembro de 2005. Todos os pacientes incluídos no estudo apresentavam
diagnóstico médico de acidentes por serpentes no Ceatox-CG. Os dados foram coletados através das fichas de notificação do Sinan para Animais Peçonhentos, do Ministério da Saúde.

Variáveis de estudo
Foram analisadas as seguintes variáveis: demográficas, socioeconômicas, e as relativas
ao acidente, ao gênero da serpente; e as clínicas.
A gravidade do envenenamento foi classificada conforme recomendação do Ministério da Saúde: leve, moderado ou grave, nos acidentes botrópicos e crotálicos, e grave no acidente elapídico 9.

Análise dos dados
Os dados foram tabulados e analisados através de estatística descritiva no Microsoft Excel, versão 2003.

Resultados
No período estudado foram atendidos e notificados 1.443 casos de intoxicações
por biocidas, medicamentos, animais peçonhentos,
plantas tóxicas, drogas de abuso e produtos químicos. Destes, 737 casos foram causados por animais peçonhentos, sendo que 277 foram causados por serpentes (Tabela 1).

Table 1 – Prevalência dos casos de intoxicações e acidentes com plantas e animais peçonhentos no Ceatox-CG durante o ano de 2005.

Tabela 1
Na Tabela 2 observa-se a caracterização dos acidentes ofídicos atendidos e notificados
no Ceatox-CG, segundo as variáveis sociodemográficas. Os acidentes foram mais frequentes no sexo masculino, com 199 casos (71,8%). Através da análise de Correlação de Pearson, avaliamos a relação existente entre os grupos, que apresentou correlação positiva (r=0,883). Com relação à faixa etária, observou-se maior frequência de acidentes entre 10 e 19 anos, para ambos
os sexos, contribuindo para 22,8% das ocorrências. Observa-se, também, que para a variável grau de instrução, prevaleceu o número de casos ignorados: 154 (55,6%).
No tocante à ocupação, constatou-se que a maioria dos acidentes ocorreu em agricultores, 127 casos (45,8%), e na zona rural, 205 casos (74%).

Tabela2
Os acidentes ofídicos ocorreram durante
todos os meses, ainda que de forma
irregular. Observou-se um pequeno aumento nas notificações no período de maio a novembro, e um declínio de casos nos meses de dezembro a abril. Contudo, a maior incidência de acidentes ofídicos ocorreu no mês de agosto, com 37 casos (13,4%), seguidos dos meses de julho, com 34 (12,3%), e de setembro e novembro, 33 (12,0%) (Figura 1).
Figura 1
Os municípios com maior ocorrência de acidentes foram: Campina Grande, representando
10,8%, Taperoá (6,8%), Soledade (6,4%), Boa Vista (4,3%) e Barra de Santana (4,1%); os demais municípios apresentaram índice menor que 4% (Figura 2).
Figura 2
Com relação à região anatômica, na qual ocorrem as picadas das serpentes, as extremidades foram os locais de maior predominância,
com 246 casos (88,8%), sendo 65 deles (26,4%) na extremidade superior e 181 (73,6%) na extremidade inferior. Na extremidade superior, o dedo da mão foi o local mais acometido, 37 ocorrências (56,9%); na extremidade inferior foi o pé, com 134 casos (74,0%) (Tabela 3).
Tabela 3
Com base no diagnóstico e/ou identificação
das serpentes, os gêneros responsáveis
pelos acidentes foram: Bothrops (198 casos - 71,3 %), serpentes não peçonhentas (69 casos - 24,9 %), Crotalus (7 casos - 2,5 %) e Micrurus (3 casos - 1,1%) (Tabela 4).
Tabela 4
Nos acidentes por serpentes do gênero Bothrops, os casos leves prevaleceram, com 140 registrados (70,7%), seguidos de 46 moderados (23,3%) e 12 graves (6,0%); nos acidentes por serpentes do gênero Crotalus, ocorreram 2 casos moderados (28,7%) e 5
graves (71,4%). Os acidentes por serpentes Micrurus foram classificados como graves. A evolução para cura predominou, havendo apenas um óbito, causado por serpente do gênero Bothrops, com um coeficiente de letalidade de 0,5%. Observa-se, ainda, na Tabela 4, que 24,9% dos casos atendidos foram causados por serpentes não peçonhentas
ou por serpentes peçonhentas que não causaram envenenamento (picada seca), ou seja, os pacientes não apresentaram
qualquer anormalidade. Quanto às
espécies das serpentes consideradas não peçonhentas, predominaram acidentes com corre-campo (Philodryas nattereri) e cobra verde (Philodryas olfersii), ambas pertencentes à família Colubridae.
A média geral do tempo, em horas, decorrido
entre o acidente e o atendimento, baseado na gravidade foi de 4,3 (±2,4), 5,3 (±3,7) e 26,5 (±29,9) nos casos leves, moderados
e graves, respectivamente.

Discussão
No município de Campina Grande, o Centro de Assistência e Informação Toxicológica
constitui a unidade de referência para o atendimento de acidentes ofídicos. Sua relevância fica demonstrada pelo número de casos atendidos nesta unidade.
O predomínio de acidentes entre o sexo masculino, na faixa etária entre 10 a 19 anos, pode ser devido à precoce inserção no trabalho agrícola das pessoas nesta faixa etária, muito provavelmente com vistas a contribuir para o aumento da renda familiar10.
No estado do Ceará, Feitosa et al.11, no Amazonas, Borges et al.12 e, na região do Noroeste de São Paulo, Rojas et al.13 encontraram dados semelhantes. Fonte do Ministério da Saúde de 200514 mostra que, quanto ao grau de instrução, predominaram os casos ignorados (213), o que se assemelha aos nossos resultados.
Nesta pesquisa observou-se a prevalência
da atividade agropecuária e da zona rural. Na região Nordeste, principalmente no interior, na época de plantio e colheita, observa-se uma maior movimentação de trabalhadores rurais. Assim, provavelmente
pode haver uma relação direta entre o aumento de acidentes por serpentes e a época destinada ao plantio e à colheita da safra agrícola. Estas informações reforçam a conotação do acidente ofídico como acidente de trabalho, uma vez que o seu incremento coincide com o deslocamento do trabalhador rural para as atividades do campo11,15.
Os resultados confirmam a observação feita por Theakston e Griffiths16, que relatam
que no mundo inteiro a atividade agrícola se apresenta como um fator de risco para a ocorrência de acidentes ofídicos.
Albuquerque15 e Swaroop e Grab17 justificam
o fato afirmando que os índices de acidentes por serpentes obedecem a uma variação regional considerável, ou seja, estudos regionalizados podem demonstrar diferenças marcantes como as que ocorrem
entre a região Sul/Sudeste e a região Nordeste. No Sul/Sudeste os acidentes predominam nos meses de outubro a abril, caracterizados por um período chuvoso e quente, com um recesso no inverno, enquanto
na região Nordeste há um aumento nos meses de maio a setembro, seguido de decréscimo a partir de outubro.
Em Goiás, Pinho et al.18 relataram que entre os meses de abril e outubro, os acidentes
foram mais frequentes (entre 1998 e 2000), coincidindo com o período de maior pluviosidade e temperatura, bem como de maior atividade agropecuária nesta região.
As vítimas foram picadas mais frequentemente
nos membros inferiores, com maior frequência nos pés. Em São Paulo, Ribeiro et al.19, e no Acre, Moreno et. al.20 relataram, também, que a região anatômica mais frequentemente atingida foi a do pé (43,1%), seguindo-se a perna (25,7%) e a mão (16,5%).
Portanto, o uso de equipamentos de proteção específicos, como perneiras, botas de cano alto, luvas ou instrumentos para retirar entulhos e remover o mato, como enxadas e pás, poderiam evitar cerca de 50 a 75% dos casos21,22.
Nesta pesquisa verificou-se que o gênero Bothrops foi responsável pela maioria dos acidentes envolvendo serpentes peçonhentas.
Devido à capacidade de se adaptar a diferentes tipos de ambientes23, as serpentes desse gênero podem ser encontradas nos mais diversos ecossistemas.
Dentre os estudos epidemiológicos realizados
em alguns estados do Brasil, podemos citar o de Moreno et al.20, realizado no Acre no ano de 2002. Neste, o gênero Bothrops foi responsável pelo maior número de acidentes,
com 109 casos (75,7%), seguido pelo
gênero Lachesis com 3 (2,1%) e o gênero Micrurus
com 1 (0,7%). Bochner e Struchiner10, num trabalho de revisão da literatura sobre a epidemiologia dos acidentes ofídicos no Brasil nos últimos cem anos, concluíram que a maioria desses acidentes é causada por serpentes do gênero Bothrops.
Os casos classificados como grave foram atendidos, em média, mais tardiamente do que os demais, o que sugere que o tratamento
tardio seja fator de mau prognóstico, o que é plenamente explicável, pois o soro deve ser administrado o mais precocemente possível, com o intuito de neutralizar as atividades do veneno15.
De acordo com o Ministério da Saúde9, uma vez indicada a quantidade de soro a ser administrada, esta deve ser aplicada em dose única.
Além disso, na região Nordeste há pacientes
que demoram várias horas para procurar atendimento na unidade de saúde do seu município, como também podem não receber o tratamento adequado e acabam
sendo transferidos para unidades mais complexas de outra cidade. O extenso lapso temporal entre o acidente e o atendimento pode determinar a evolução para um quadro
mais grave.
No Ceará, diferentemente dos nossos resultados,
Feitosa et al.11, avaliando aspectos epidemiológicos dos acidentes ofídicos entre
1992 e 1995, relatam que os óbitos foram mais frequentes nos acidentes por serpentes do gênero Crotalus. Além disso, nos anos de 2005 e 2006, dados do Ministério da Saúde notificaram 75 e 50 óbitos por serpentes do
gênero Bothrops, e para o gênero Crotalus 20 e 12 óbitos, respectivamente. Contudo, o coeficiente de letalidade é maior para os acidentes Crotálicos do que para os acidentes
Botrópicos7,14.

Conclusão
Conclui-se que os acidentes envolvendo animais peçonhentos, notificados no Ceatox-
CG, apresentaram elevada prevalência em relação a outros agentes. A epidemiologia
dos acidentes ofídicos corrobora para um perfil no Brasil que evidencia maior frequência em trabalhadores rurais do sexo masculino na faixa etária produtiva de 10 a 49 anos; atingem, sobretudo, os membros inferiores; e a maioria desses acidentes é atribuída ao gênero Bothrops. Vale ressaltar a importância do correto preenchimento da ficha de notificação e a necessidade de um tratamento precoce para as vítimas de acidentes ofídicos, utilizando, sempre que possível, a via endovenosa para administração
do soro específico com o menor tempo possível entre o acidente e o atendimento. A inclusão de acidente ofídico na lista de doenças ocupacionais e a sua adequada vigilância poderiam representar um avanço em Saúde Pública, não somente por determinar
menor incidência, mas também porque o precoce e correto encaminhamento
dos que se acidentam pode diminuir a limitação temporária e às vezes definitiva na capacidade de trabalho, eventualmente causada por essa condição, assim como sua mortalidade e letalidade.

Referências
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Fonte: SciELO.